quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vingança

Pablo havia terminado seu último namoro a uns cinco meses, quando decidiu sair sozinho para o centro da cidade. Estava à procura de uma nova namorada: não era muito exigente, mas tinha alguns critérios. Entrou num bar, onde havia bastante gente e algumas pessoas estavam dançando. Ficou no balcão até que viu uma mulher linda, sentada em uma mesa, acenando na direção dele. Não acreditou que seria com ele, parecia uma visão do paraíso, mas depois da insistência da moça, Pablo foi se sentar com ela, mesmo sendo muito tímido e não tendo muito jeito com as mulheres, logo então se apresentou:
_ Prazer, meu nome é Pablo.
_ Prazer, meu nome é Jéssica, de onde você é? _ Disse Jéssica olhando nos olhos de Pablo.
Ele impressionado por sua enorme beleza diz meio gaguejando:
_ E... e... eu moro aqui em Belo Horizonte mesmo, e você? _ Ele não gostava de falar seu bairro, pois tinha vergonha da favela onde morava e medo de alguma favela rival.
_ Eu moro por aqui também!
Pablo chamou o garçom e pediu uma cerveja para os dois, virou-se para ela e disse:
_ Estou curioso para saber por que que você me olhou tanto, não adianta falar que foi porque você me achou bonito porque eu não sou, e já vou logo avisando, eu também não tenho dinheiro.
Depois de uma risada de leve, ela virou-se para ele e disse:
_ Bobo!!! Cada pessoa tem uma opinião, a minha é porque fiquei, de um certo modo, encantada por esse seu jeito desengonçado e inocente. Mas se quiser eu me levanto e vou embora daqui e prometo nunca mais te atormentar.
O garçom então chega com a cerveja e serve os dois, Pablo ainda sem jeito de falar com a Jéssica – pois nunca teve muito contato com mulheres além de sua ex-namorada – dá uma golada exagerada se vira pra ela tentando fazer um jeito galã e fala:
_ Não precisa não. Minha noite será melhor com você!!!
A moça não resiste e dá uma gargalhada e diz:
_ Para de tentar ser galã que assim você pode acabar perdendo a oportunidade de poder continuar conversando comigo, e de quem sabe poder aproveitar mais comigo (ou seja um thuplack no thuplick no thuplay) a sós.
E papo vem e papo vai, bebida vem e bebida vai, finalmente ele virou pra Jéssica e falou:
_ Nós estamos aqui neste bar pelo mesmo motivo, e você já sabe disso, acho que seria legal se a gente ficasse.
Ela já sabendo o que ele queria, simplesmente aceitou. E naquele rala e rola, naquela pegação e o “fogo” subindo, Jéssica chama Pablo para irem para a casa dela. Chegando lá, mesmo o Pablo com sua enorme timidez, ele tira a roupa e se sente um pouco mais à vontade, então Jéssica vira para ele e pergunta:
_ Deixa eu te amarrar???
Ele com uma cara de espantado, diz rapidamente um NÃO, ela faz uma carinha de dó e fala:
_ Por favor, prometo que não irá se arrepender!!!!
Ele ainda com medo, mas com uma enorme vontade de ter aquela linda mulher em seus braços, acaba cedendo seus desejos. Então ela o amarra em sua cama com algumas algemas que havia guardado em sua gaveta, quando de repente entram dois homens fortemente armados e com uma toca ninja no quarto. O que o Pablo menos desconfiava era que Jéssica, aquela linda mulher exuberante estava no plano para que os tais homens pegassem ele para torturá-lo, pois ele era de uma favela rival.
Após uma surra dos homens, ele foi mandado de volta para o lugar humilde onde morava com casas simples e pessoas humildes e trabalhadoras que só queriam sustentar sua família. Mas os tais “homens” que o surpreenderam deixaram um recado escrito em uma folha de caderno para que ele pudesse dar ao seu primo Danilo, que “governava” o morro. Então, quando chegou na sua favela todo machucado, a primeira coisa a fazer foi ir até a casa de seu primo dar a tal notícia. Chegando lá ele deu de cara com sua família em prantos, sua mãe chorando veio correndo e o abraçou bem forte, ele olhou para todos e disse:
_ Calma, gente, eu estou bem!!! Mas cadê o Danilo? Preciso conversar uma coisa muito séria com ele.
Um vizinho que estava perto de sua família saiu correndo à procura de Danilo, Pablo não aguentando de dor e cansaço pela longa noite que teve, não aguentou, deitou e dormiu o resto do dia.
À noite, quando acordou, deu de cara com seu primo. Danilo não era daqueles caras fortes, era um magrelo franzino que usava um bigode amarelo, cheio de marcas no rosto, mas era um homem muito poderoso na comunidade. Danilo já foi logo perguntando:
_ Quem que fez essa porra com você? O que que você tava querendo conversar comigo???
Pablo ainda meio atordoado pelo cansaço respondeu:
_ Danilo, você está correndo um grande perigo!! Eu não sei o que eles devem fazer, mas não vai ser uma coisa boa! Eles me deram esse bilhete para eu lhe entregar.
Danilo então leu o Bilhete que dizia:

Danilo então não mostrou nenhuma emoção mas tomou a decisão de ir atrás das tais pessoas que poderiam ter feito aquilo com Pablo.
Danilo e Pablo fizeram uma lista com os suspeitos do tal acontecimento, entre eles estava o poderoso “Cruz”, dono da maior parte do tráfico de Belo Horizonte, grandioso, ambicioso e respeitado, não tinha dó, nem coração.
Ele morava em uma das maiores favelas de Minas Gerais, poucos o conheciam pessoalmente. Pablo e Danilo chegaram à conclusão disso porque entre todos ele era o único que não tinha uma “certa” ligação com Danilo. Um tempo atrás, ele queria uma parte da favela de Danilo, tanto em lucro, quanto em território. Em troca disso, Danilo teria “segurança” em seus negócios e teria o luxo à sua disposição, mas Danilo não aceitou esse acordo.
Mas para chegar até ele não seria nem um pouco fácil. Então Pablo, Danilo e pessoas de confiança que trabalhavam para Danilo se juntaram para formar um plano meio que estranho. Eles decidiram que Danilo iria entregar a área em que ele tomava conta mas com uma condição, ele queria conversar com Cruz pessoalmente, mas eles iriam fazer uma emboscada certeira para ele, eles queriam fazer ele pagar por cada minuto que ele fez Pablo sofrer.
Depois de algumas semanas, com tudo já combinado, Pablo decidiu entrar nessa vida de crime, ele acabou sendo o braço direito de Danilo, e ele mesmo entrou em contato com Cruz:
_ Eu quero falar com Cruz! - disse Pablo num tom de autoridade.
_ Quem é? - Disse alguém, com uma voz feminina parecendo que era a “secretária” dele.
_ Fale que eu sou o porta-voz do Danilo!
_ Só um minuto.
Pablo com muito nervosismo não parava de tremer, pois afinal estava conversando com um peixe grande, então de repente uma voz grossa disse:
_ O que você quer?
_ Quero conversar sobre o território do Danilo, que você estava interessado, lembra?
_ Hum... ele aprendeu a lição não é? - uma risada meio que medonha. - Mas assuntos assim tenho que conversar é com ele, não com um simples “escravo”, era ele que tinha que ligar, não você!!!
_ Mas melhor do que isso, ele quer encontrar com você para que possam conversar melhor.
_ Hum... interessante, vamos fazer o seguinte: me encontra sábado na Praça da Estação, às 14:00 em ponto, sem ninguém com ele, vamos fazer negócios.
_ Nós estaremos lá! - disse Pablo, em seguida desligou o telefone.
Esses dias de espera foram longos. Danilo andava de um lado para o outro pensando em um jeito certo e eficiente para poder dar certo sua armadilha e não só vingar o que ele fez com seu primo mas também de um certo modo iria conquistar o poder de Cruz, porque aliás se ele matasse Cruz ele teria um grande respeito daqueles que também atuavam naquele rumo.
Chegou então o dia esperado. O plano parecia que estava correndo tudo bem, só tinha uma coisa: eles sabiam que Cruz não seria burro o suficiente para cair em uma cilada tão fácil. Ele sabia que os seus “capangas” estariam lá e qualquer vacilo seria fatal. Então decidiram levar todos, mas quando eu falo todos, é porque são todos que eram amigos ou que trabalhavam para Danilo, cerca de 300 pessoas. Fizeram um plano de última hora. Apenas 10 (os de mais confiança) iriam com Pablo e Danilo enfrentar cara a cara Cruz sem arma alguma. Os demais ficariam escondidos por ali perto e outros em outros quarteirões. Danilo, que tinha um dinheiro guardado (aliás, uma boa quantia), comprou uma arma de longo alcance e “contratou” um antigo atirador de elite com experiência em diversas batalhas, esse era um rapaz simples que morava lá na comunidade, e o colocou em um prédio distante, com uma vista bastante ampla para a praça, esperando só o momento certo para dar um único tiro e encurralar os “capangas” do Cruz.
Então, às 14:00 em ponto, chega Cruz nem um pouco humilde em seu Carro de luxo (não vou falar a marca porque não quero fazer merchandising). Então o carro para e fica aquele silêncio parecendo filme, quando de repente desce um rapaz e abre a porta de trás. No que ele abriu a porta, desceu o tal Cruz, um homem já com um pouco de idade, mas não velho, em torno de uns 45 anos, mas mesmo assim se mostrava forte e impunha respeito, vestindo um casaco de couro e calça jeans e usando um óculos escuro estilo Ray Ban. O pior de tudo, ele estava acompanhado por aquela mulher que havia ajudado a fazer a emboscada para Pablo. Então ele tirou os óculos, olhos nos olhos de Pablo e Danilo e disse:
_ Isso que é vir desacompanhado?
_ Isso é somente uma precaução! Não sei do que você é capaz, então resolvi não confiar. - disse Pablo.
_ É, então você estava certo!
Nesse momento, vieram dois carros em alta velocidade, deram um 180º no meio da praça, desceram alguns homens e correram em direção de Cruz para cercá-lo e ainda vieram um monte de “capangas” fortemente armados para dar um certo “reforço” para Cruz. Nesse momento, as pessoas que estavam com Danilo vieram e o cercaram também, então Pablo virou para Cruz e falou:
_ Seu erro foi achar que nós éramos bobos!
_ Vocês não vão conseguir sair daqui com vida! - Falou Cruz em um tom ameaçador.
_ Será? - disse Danilo.
Nesse momento, o rapaz que o Danilo tinha contratado para ficar de “plantão” atirou bem na cabeça de Cruz, as pessoas cercaram Danilo e começou o tiroteio. Danilo e Pablo correram para lados diferentes, procuraram uma arma mais perto para ajudar e foram para cima dos capangas, mas os “capangas” de Cruz não foram páreos para os de Danilo.
Então, quando tudo acabou, todos ficaram com uma cara de espanto, pois ninguém nunca tinha passado por uma situação daquela. Mesmo com as mortes, Pablo até que ficou aliviado com tudo que aconteceu, mas quando ele procurou por Danilo ele viu o corpo dele estendido no chão, imediatamente ele saiu correndo para socorrê-lo. Chegando lá, Danilo tinha tomado um tiro no pulmão, já estava ficando sem ar, Pablo pegou-o no colo, com os olhos transbordando em lágrimas, e gritando apavorado ele disse:
_ ALGUEM CHAMA A PORRA DA AMBULÂNCIA !!!!!!!!!!
Danilo, quase não conseguindo falar disse:
_ Não precisa, Pablo, você foi forte o suficiente, cuide do que é meu e do que agora é nosso.
_ Danilo, não vá!!
_ Corra antes que a polícia chegue aqui.
Nesse momento, alguns amigos que estavam por perto ainda, pegaram Pablo pelos braços e tiraram ele de lá aos sons das sirenes.
Chegando ao morro, a noticia já tinha se espalhado e Pablo já era visto como o novo dono de lá e não somente dali, mas de todas as periferias que Cruz tinha algum controle e assim ele ficou conhecido por muitos e ficou sendo um dos mais procurados pela polícia. Pablo entrou de vez nessa vida, e é hoje o mais temido.

Eslon - 09

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